domingo, 2 de agosto de 2009

Poema enigmático/revelador

Segue abaixo um prosema feito no impulso, que foi se revelando à medida em que as palavras caiam no papel. Por isso mesmo enigmático. Por isso mesmo revelador.


CITALOPRAM, 20 mg

Tem um sol dentro do meu quarto
E um barulho de riacho perto da cama
E um vento que vem das direções todas

Tem pássaros,
E os seus gorjeios foram inventados agora,
Nova sinfonia para a tarde aberta

Minhas mãos devaneiam pelo ar,
cortando a brisa,
cortando o inefável.
Os meus olhos seguem o som que há dentro do som.
O som que existe dentro do sol.
O sol dentro do meu quarto.

Estou em paz
Morto em paz.
Nova tragédia para a tarde aberta.

O encantamento me arremata,
despedaça meu resto de corpo
e o meu resto de alma.

Indolentemente me sacrifico neste refúgio
que eu inventei
que eu encontrei
dentro de um livro

dentro de uma saudade.

sábado, 1 de agosto de 2009

EMERSÃO

Não sei se foi Clarice (consegui ler de novo) ou Jú (um comentário no Éden perdido), mas tive de volta aquela sensação que perdera há muito. De que há algo dentro de mim que precisa se manifestar. A vontade recrudesceu e eu me vejo agora, no meio dessas palavras, escrevendo novamente, com tudo de bom e de horrível que o ato de escrever me oferece.

E preciso falar aos amigos, aos que já sabiam e aos que saberão agora, e falar aos desconhecidos, e às coisas que já morreram e nos alimentam, e aos deuses impossíveis, e falar aos que jamais ouvirão, que eu imagino, eu espero, estar perto da cura. Estou melhor, vendo as coisas mais claramente e me assustando bem menos com elas. Estou vivo e vivendo. Estou vivo e aprendendo a viver.
Estou aprendendo a dizer que amo as pessoas.
Eu te amo, Valéria, Geisa, Juliana, Danilo, Martirene, Geovana, Rose, Paulinha, Sara, Ivanildo, todo mundo do Vieira e do Trapiche. Sem medo de ser piegas, eu amo.

Estou tornando as coisas simples. Ser medíocre e me conformar com o fato de que as coisas que eu quero jamais serão minhas me fizeram uma pessoa melhor.
É isso: ser uma pessoa melhor é ser uma pessoa menor.
É isso: estou diminuindo e, ainda assim, não caibo em mim.
É uma forma de felicidade. É a forma de felicidade que me cabe. Estou feliz com minha felicidade.
E com saudade de estar perto de muita gente.
E com vontade de virar o azul do céu e a cor que eu não sei qual é, que corre na água do rio.
E por falar em rio, aproveito para terminar falando que emergi. Estou de volta. E consigo respirar.

R.